quarta-feira, 23 de junho de 2010

Vício vitalício

Faça uma lista de:
grandes amigos (Oswaldo Montenegro);
momentos únicos guardados com cada detalhe;
livros que você quer ler nas férias;
filmes a assistir;
países a conhecer;
suas fotos prediletas;
receitas que quer aprender a fazer;
músicas com boas recordações;
palavras das quais gosta;
planos para os próximos cinco anos (ou cinco minutos);
os melhores clipes de todos os tempos;
línguas que você quer falar (em ordem de interesse);
maneiras inusitadas de resolver problemas difíceis;
ítens que precisa comprar na papelaria;
presentes possíveis para pessoas queridas;
sonhos! e outros doces que adoraria comer;
proparoxítonas!
Ou faça uma lista das próximas listas que deseja fazer.

terça-feira, 22 de junho de 2010

É só quando ficamos sem biblioteca que (re)descobrimos os livros que temos em casa:
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Cultrix. São Paulo, s/d.
MORAES e RAEDERS. La Littérature Française. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1944.
Daora.
Lição de hoje: "Antes do desespero, olhe na sua própria estante"
Um abraço pra quem fica!

sábado, 19 de junho de 2010

dezoito de junho de 2010
eis que nossa literatura portuguesa perde um imortal. mas já havíamos ganhado.
o homem que olhava e via, que resolvia escrever do seu próprio
jeito porque todo o resto não dava conta do que ia escrever.
o homem que decidiu dar férias para a Morte e assistir ao
resultado de camarote.
o homem que me mostrou que existem, sim, livros que desorganizam suas mais
certas e, até então, indubitáveis ideias.
ah, Saramago! Eu queria te te dado um abraço. ou apenas um obrigada.

domingo, 30 de maio de 2010

Eis que um final de semana abre uma janela de novidades.
O jardim era lindo, il faisait du froid, agora eu falo francês.
É engraçado como algumas pequenas coisas fazem com que nos sintamos novos, diferentes, com novo ar nos pulmões e novas vontades na cabeça. Quero abraçar todo mundo, tirar fotos, conhecer pessoas, rir horrores, aprender, cantar (en français!), dançar com as velhinhas... Oswaldo Montenegro é a trilha sonora de hoje: Sem mandamentos é o nome da música.

"Eu quero que as buzinas toquem flauta doce/ e que triunfe a força da imaginação"

Rever os velhos amigos.
Isso é, em partes, culpa do frio. Sem dúvida alguma!
Quero estudar Marjane Satrapi.
Conhecer os novos bons músicos brasileiros.
AAAAAAAHHHHH!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Listas

Vontade de escrever cartas, de ler Saramago, de comer algodão doce. Vontade do frio, das joaninhas, dos bolos de cenoura e das unhas vermelhas. Do barulho do sino às seis horas, do trem parando na plataforma, de um bom livro pra ler embaixo da árvore. Do português bem escrito, de uma boa conversa, dos sorrisos sinceros, das fotos espontâneas, do abraço confortável, do chá quente à noite, do lápis bem apontado. Do selo carimbado, do cheiro do verde, do corredor onde eu corria.
Saudades do Vinícius, do Oswaldo e do Nelson. Do cinema na sexta-feira, das tardes de sono, dos amigos que partiram, do conforto de ser criança. Saudades das infinitas canetas coloridas, dos papéis em branco, dos cadernos a começar. Das poesias trocadas, de esperar o carteiro, de sair sem rumo.
Na verdade, são só algumas linhas.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Epifania Corrosiva
Sentada na praça sozinha, chorou. Já não lembrava mais do último episódio de carinho e atenção recebidos. Entrara num tempo sem sorrisos, sem palavras, sem ação, sem vida. Embora soubesse que, cedo ou tarde, colocaria fim a seu solitário respirar.
Era costume saborear, apenas com ela mesma, as damas da noite e admirar as amoras roxinhas tingindo o chão no início da primavera. Sem garotos, sem doces romances, deixava a adolescência sem nunca ter provado o gosto da rebeldia, do questionamento, de risadas e lágrimas compartilhadas. Talvez por sua personalidade, sempre introspectiva, ou pela aparência, fora dos patrões.
Exímia escritora, recheou cadernos e blocos ao longo de seus dias. Sensações e acontecimentos na contra-mão: uma coletividade de desamores e desesperos. Palavras escolhidas com esmero e sensatez para descrever tão rudes e trágicos enredos. O livro perfeito das atrocidades atiradas contra uma alma sensível e bela. Escuridão amarga e calor intoxicante. As páginas verdes, machucadas com tinta vermelha, apresentavam sutis borrões de água salgada produzida por seu corpo.
“O que é felicidade?” perguntava-se. Procurava-a nas borboletas de sua alma, atraídas por raiozinhos de sol sobreviventes em meio a tanta nebulosidade e poluição visceral. Talvez fosse o calor de sua mãe, que há muito se fora. Ou dividir idéias com quem a cerca? Porém, a dificuldade fez de sua utopia eterna impossibilidade. Frustrantes resquícios quentinhos e coloridos de um inverno de dez anos atrás levados pela amena e desesperadora brisa de fim de tarde. Não encontrava mais com o que regar seus sonhos, nem mesmo forças para plantar sementes de metas alcançáveis. Seus olhos desaprenderam de brilhar, seus lábios, de esboçar um sorriso. Era só tristeza-memória.
É, havia a memória: intacta, intocável, eternizada. Mas eram apenas fantasmas.
Agora, percebe. Nem mesmo o som do Renato Russo nem as palavras de Clarice Lispector lhe traziam alegria, amor, euforia. A fúnebre esperança lhe soa como um digno escape. Mas quem abriria mão de ocupantes rotinas para, apenas, pôr fim a seu sofrimento? Então sua infindável solidão toma um novo rumo: conforma-se. Após tantas cinzentas desilusões, seria capaz de assumir o papel de seu algoz?

Marina Garcia
Novembro/2007
E eu ainda mudo o título.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Minhas memórias

"Qualquer coisa que se sinta
tem tantos sentimentos,
deve ter algum que sirva"
Socorro, Arnaldo Antunes
Coleções

Sou uma amante assídua de memórias. Aprecio o fato de elas me fazerem suas vitimas e me levarem a distantes e risonhos mundos passados. Não troco lembranças nem por sucos de morango ou sorvete de menta, por mais pavoroso que isso soe.
Recordações são saquinhos fofinhos de veludo vermelho carregados sempre do lado esquerdo. Saquinhos sem fundo, amarrados levemente de modo a novas recordações sempre terem entrada facilitada, mas os amarrilhos são fortes o suficiente para aprisionarem, com conforto, as relíquias da mente.
E não aprecio apenas o fato de carregá-las infindavelmente. Tão fascinante quanto é o sutil prazer em ouvi-las. Sempre estou atenta a pequenas aberturas das douradas amarras alheias, quando seu carregador se vê disposto a dividi-las comigo. Ah, que momento único! Abre-se delicadamente e revivem-se narrativas ingênuas, recheadas de generosas porções de emoção: as tão desejadas maçãs esmagadas cruelmente pelo ônibus apressado; a melhor amiga que passa a ser paixão em seis meses; as tardes preenchidas com pequenos grandes livros; o medo da chuva; o sedutor cheiro de café na casa da vó; orelhas geladas e sorrisos abertos diante do frio paulista; os passeios de trem e metrô no centro velho de São Paulo; a música tocada no rádio no minuto certo. As palavras vão-se escapando, e quase sempre posso ver um sorriso de criança por trás delas. Às vezes, são lágrimas alagando os olhos do narrador, teimando em continuarem nos sinuosos caminhos ópticos. Memórias podem trazer também sentimentos complexos e, por vezes, causam dor. E ao apalpá-las com palavras, noto que compartilhá-las é cura.
A verdade é que gosto e ponto final. Sou uma fiel colecionadora de memórias. As minhas sim. E as de quem quiser contribuir.
Marina Garcia, janeiro/2008